Garimpo e cisão

Garimpo e cisão

O ouro na bacia do rio Tapajós foi descoberto no final dos anos 50 no rio das Tropas e logo em seguida no rio Jamanxim. A pá e a picareta do garimpo artesanal foram substituídas por motobombas de alta pressão no final da década de 70.

O primeiro ciclo acabou na década de 90 e um segundo aconteceu no início do século 21 e foi interrompido pelo Plano Real, em 2005, que instituiu a paridade do preço do Real e do dólar, derrubando o preço do ouro no mercado interno.

Um terceiro foi iniciado em 2019, quando os preços começaram a subir e novo chefe do Executivo passou a prometer a legalização do garimpo em Terras indígenas. Considerado um porto seguro em tempos de incerteza, o ouro se valorizou rapidamente durante o início da pandemia e experimentou recordes de valorização nos últimos anos.

A alta do ouro e a proliferação do garimpo na região, aliada à aumento do número de lojas de compra nas cidades do entorno das TIs do bloco Kayapó e na reativação de garimpos antigos que afetam diretamente os rios usados pelas aldeias.

Na década anterior, graças ao aumento da fiscalização e da Pela primeira vez em uma década, lideranças de aldeias Mekrãgnotí  decidiram se associar a garimpeiros. Na Assembleia anual do Instituto Kabu realizada em abril de 2019, três aldeias da TI Baú se desligaram do Instituto, já que o PBA-CI da BR-163 prevê a sua paralisação se aldeias estiverem envolvidas em ilícitos.

Em fevereiro de 2020, cumprindo promessa de campanha, o presidente Jair Bolsonaro enviou o PL 191 ao Congresso, buscando regulamentar garimpos existentes em Terras Indígenas, sem o compromisso de respeitar a recusa de indígenas contrários a este tipo de atividade.

Como reação, no mês seguinte, uma delegação de mais de 30 Kayapó e Panará foram à Brasília para uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado em que o Relações Públicas do instituto Kabu, Doto Takak-Ire e a líder indígena Alessandra Munduruku denunciaram a contaminação por mercúrio e o problema crescente dos garimpos e mineradoras no entorno da BR-163 e de TIs da bacia do Tapajós.

No segundo semestre, lideranças das três organizações indígenas do bloco Kayapó – Instituto Kabu, Associação Floresta Protegida e Instituto Raoni, assinaram um Manifesto  contra o Garimpo . Juntas, as lideranças contrárias ao garimpo em territórios indígenas são maioria e representam 56 aldeias do bloco Kayapó.

A primeira ocorreu em novembro de 2020, dentro da TI Baú, queimando dragas e tratores. Antes disto, um grupo de jovens guerreiros da aldeia Baú enfrentou e expulsou 40 garimpeiros que estavam reativando outro garimpo dentro da TI do mesmo nome, um mês antes.

O PBA não foi uma panacéia para todos os problemas. Os Kayapó ainda lidam com dramas como mortes infantis por diarréia,  dificuldades nos transportes de doentes para a cidade e falta de médicos nas aldeias. O Instituto Kabu se viu obrigado a fazer uma campanha de doação para poder levantar recursos para o enfrentamento da COVID. A campanha Kabu Solidário (www.bit.ly/kabusolidario) ainda está ativa e tem comprado materiais de pesca para os indígenas nas aldeias e contribuído, juntamente com outras instituições, para instalar internet em todas as aldeias filiadas. Em março de 2021, aldeias voltaram a pedir a distribuição de cestas básicas.