A cultura

A cultura

Após mais de 60 anos de contato, os Kayapó assimilaram vários aspectos da cultura brasileira e ocidental. Eles usam celulares, se comunicam em grupos de WhatsApp e estão em redes sociais. Café, açúcar, arroz e feijão estão nas cestas básicas distribuídas desde o início da pandemia; igrejas se multiplicam nas aldeias e jovens citam bandas de forró e música sertaneja entre suas predileções.

No artesanato, as sementes e cascas de moluscos deram lugar a miçangas coloridas usadas em colares, braçadeiras, perneiras e cintos rituais que, às vezes, trazem logotipos de marcas consagradas ou do time do coração – e não há aldeia sem campinho de futebol.

As novas gerações vêm se adaptando e adotando esses hábitos, costumes e tecnologias mais rapidamente. Alguns símbolos que marcaram a etnia, como o uso do botoque (disco labial), importante para a oratória e usado pelo grande chefe Raoni, deixaram de ser usados pelas novas gerações.

Mesmo com todas as mudanças, os indígenas ainda mantêm seu modo de vida secular e cultivam as tradições. A base da alimentação é proveniente da caça, da pesca, da coleta de frutas e de plantas, além do cultivo das  roças tradicionais de mandioca.

As casas são coletivas, e as crianças se movem livremente em grupos pelas aldeias, sem supervisão aparente,nem acidentes. As crianças ouvem poucos “nãos” e choros prolongados tornam-se motivo de preocupação e questionamentos.

A medicina tradicional dos pajés continua valorizada, assim como rituais e festivais que reúnem parentes de aldeias diferentes. Esse espírito de coletividade também está presente nas decisões que interferem no cotidiano das comunidades, tomadas coletivamente. Os   chefes (caciques) precisam consultar a coletividade.

A língua Kayapó está viva, assim como a tradicional importância que seus falantes colocam na capacidade de se expressar bem nela.

O senso de beleza, a generosidade e a importância que dão aos que sabem se expressar na sua língua são marcantes. Os grafismos que simbolizam animais como o jabuti e a onça, passaram a ser pintados em panos para comercialização,  mas a pintura corporal, com uma série complexa de regras, é essencial nas comunidades. A arte da pintura, como a da cestaria, é aprendida e aperfeiçoada ao longo de muitos anos.

Alguns fenômenos globais, como a luta pela igualdade de gêneros, se refletem no universo Kayapó. A primeira cacique mulher entre os Mekrãgnotí é muito respeitada, e as lideranças femininas estão em ascensão.

Cada vez mais exceções são abertas  para a participação de mulheres na casa central das aldeias, conhecida como Casa dos Homens, onde lideranças e anciãos se reúnem para discutir decisões importantes  Mesmo que a divisão de gênero seja bastante presente nas tarefas cotidianas – as mulheres cuidam das roças e os homens caçam -, as indígenas vêm assumindo um papel central na defesa dos territórios e na afirmação da cultura.

E os próprios Kayapó ressaltam que o papel das mulheres na sociedade tradicional é bem mais importante do que aparenta ser à primeira vista: quando os homens se casam, mudam-se para a casa da família da mulher, mesmo que isto signifique deixar seus próprios familiares e aldeia.

Quando se trata de armas, os homens empunham bordunas (pesadas clavas de madeira esculpidas e adornadas), enquanto as mulheres usam facões, seus instrumentos diários de trabalho nas roças. Diplomáticos, eles evitam confrontos diretos entre si. E é revelador que os Kayapó, conhecidos por serem assertivos na luta por seus direitos, tenham várias palavras para “luta” em sua língua, porém nenhuma para “guerra”.

Para saber mais:

https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/186

 

Crédito: Pho-Yre Mekrãgnotí