Ministra Marina Silva recebe povo Kayapó unido e é convidada para “Chamado Raoni” em julho

Lideranças de todos os territórios e de todos os grupos Mebengôkré-Kayapó se unem e recebem promessas de acesso mais simples a fundos ligados a atividades sustentáveis
Ministra Marina Silva recebe povo Kayapó unido e é convidada para “Chamado Raoni” em julho
28.04

O Cacique Raoni convidou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, para um grande encontro de lideranças indígenas de todo o país que ele vai promover pela segunda vez. O primeiro “Chamado Raoni” foi em 2020, em contraponto à tentativa do então presidente Jair Bolsonaro de questionar a sua liderança no movimento indígena.  “Já tenho muito tempo nesta luta e estou cansado agora. O Chamado é para incentivar a juventude a continuar a defender o que é seu, sua cultura, seu território”. Raoni também vai convidar o presidente Luís Inácio Lula da Silva e a Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assim como a Presidente da Funai, Joênia Wapichana, também são esperadas. O encontro deve acontecer em julho na Terra Indígena Capoto Jarina, em Mato Grosso.

A reunião com Marina Silva foi histórica, porque reuniu lideranças de todas as Terras Indígenas (TIs) do povo Kayapó e dos oito grupos que formam o povo Mebengôkré-Kayapó. “A união de lideranças dos Kayapó do Mato Grosso e do Pará é para começar uma nova caminhada. Queremos somar com todo mundo,” disse Amaury Kayapó, Coordenador Indígena da Associação Floresta Protegida (AFP), uma das três grandes associações da etnia (AFP, Instituto Raoni e Instituto Kabu).

“Vivemos nesta terra que é demarcada, vamos continuar preservando. Vimos que o governo federal está cumprindo a lei, que quem está cometendo crimes vai ser penalizado,” completou Amaury, lembrando que por quatro anos as portas do MMA ficaram fechadas e agora voltaram a se abrir para os Kayapó.

O povo Mebengôkré-Kayapó vive em seis Terras Indígenas (TIs) do bloco Kayapó (Baú, Menkragnoti, Kayapó, Capoto Jarina, Badjokore, Capoto Jarina e Las Casas) no Pará e no Mato Grosso. E tem ainda o grupo Xikrin, que vive nas TIs Cateté e Trincheira Bacajá, no Pará.

“Me sinto muito honrada e Lula se sentiu muito honrado no dia de sua posse em ter Raoni ao lado dele (na subida da rampa do Palácio do Planalto), juntamente com outros setores tão maltratados no último governo,” disse a ministra, que recebeu um colar Kayapó de presente. Ela prometeu trabalhar junto com a ministra Guajajara e com Joênia Wapichana para colocar o Chamado Raoni na agenda do presidente Lula. “É por isso que você (Raoni) é considerado um grande sábio: não é o que colhe os frutos, mas o que espalha as sementes”, afirmou.

A ministra manteve o compromisso de tirar garimpeiros ilegais das Terras Indígenas: “Sei que é um momento difícil, Lula está trabalhando muito, mas pegou um momento de muita pressão”. Ao ser questionada pelo presidente do Instituto Kabu, Doto Takak Ire, sobre o por quê de Pagamentos de Serviços Ambientais (PSAs) estarem muito mais adiantados para fazendeiros do que para os indígenas, a ministra prometeu criar uma força-tarefa para trabalhar com alternativas sustentáveis para associações indígenas. E anunciou que já está reduzindo o valor mínimo dos projetos junto ao Fundo Amazônia a ao Funbio, “para fazer projetos mais simples para o povo”. Com um valor total inicial menor, será mais fácil para associações menores conseguirem captar recursos dos dois fundos para seus projetos.

As três maiores organizações Kayapó sempre trabalharam com alternativas sustentáveis e rejeitam constantemente o aliciamento de madeireiros e garimpeiros, além de ter e ampliaram o trabalho de monitoramento e vigilância nos últimos anos. No caso dos guerreiros da aldeia Baú, na TI do mesmo nome, foram feitas até incursões para confrontar e expulsaram garimpeiros e fechar garimpos ilegais dentro da Terra Indígena. Nesta reunião, além dos parceiros tradicionais, compareceram lideranças da Terra Indígena Kayapó, onde o garimpo é contínuo por quase 50 anos.

As lideranças da região onde as aldeias não são filiadas à AFP, vêm afirmando há cerca de um ano que querem encontrar um caminho de saída para se afastarem das atividades ilícitas. Com muita coragem, Tumie Kayapó, da Associação Angrokrere, da aldeia Gorotire, lembrou que “foi o próprio governo que ensinou a trabalhar com atividade ilícita nos anos 1980. A gente quer participar, quer dialogar, quer encontrar um caminho.” A aldeia fica na TI Kayapó, a mais afetada pelo garimpo de todas as TIs Kayapó.

Maial Paiakan Kayapó, que assessora a presidência da Funai, foi a principal articuladora do encontro que ocorreu durante a realização do Acampamento Terra Livre (ATL) 2023, que contou também com muitas lideranças femininas. Tuíre Paiakan, Kokoba Mekragnotire (cacica da aldeia Mekrãgnotí na TI Menkragnoti) e lideranças mulheres da TI Kayapó.