Exposição do Instituto Kabu recebe mais de 2 mil visitantes em Novo Progresso

Todas as escolas da cidade e moradores puderam ver os diferentes papéis de homens e mulheres na cultura Kayapó através de fotos, objetos e relatos dos próprios indígenas
Exposição do Instituto Kabu recebe mais de 2 mil visitantes em Novo Progresso
26.08

“Parece que estou em São Paulo,” disse uma professora, se referindo à qualidade e ao cuidado da exposição de fotos sobre a cultura Mebêngôkré-Kayapó, na sede do município de Novo Progresso. A jovem cidade paraense que surgiu há 30 anos às margens da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), não tem equipamentos culturais como cinema, teatro e biblioteca. E a exposição com fotos e objetos da arte Kayapó que acontece pelo segundo ano, mostra que há potencial: mais de 2 mil visitantes passaram nestes últimos quatro dias pelo espaço do Instituto Kabu que abriga a loja de artesanato e o Centro de Documentação.

Na manhã desta sexta-feira (26) três ônibus com estudantes de escolas públicas e particulares chegaram quase ao mesmo tempo. Os jovens lotaram o gramado onde a exposição foi montada e se dividiam entre os totens onde podiam ler e ver fotos sobre a cultura Kayapó no Centro de Documentação, a loja onde a objetos de uso dos Kayapó estavam expostos e faziam fila para receberem pinturas com grafismos Kayapó, feitas a partir de jenipapo pelas menire (mulheres), que aprendem esta arte de pintura corporal desde pequenas.

“Achei muito legal e gostaria de ir aonde eles vivem, visitar uma aldeia”, disse Ana Quezia de 14 anos, que andava de mãos dadas com a melhor amiga, Larissa Cristina. As duas estudam no Colégio Tancredo Neves e uma delas fez uma “tatuagem” com grafismos. As pinturas se apagam naturalmente em pouco mais de uma semana, mas lembram tatuagens.

Apesar de Novo Progresso estar praticamente todo ano nas manchetes por ser um dos municípios campeões de desmatamento, queimadas e por ter garimpo ilegal, ele também é um município florestal e a parte das Terras Indígenas Baú representa a floresta mais conservada da região.

Muitos dos alunos nem sabiam que tinham indígenas como vizinhos e este foi o primeiro contato com os Kayapó Mekrãgnotí que criaram o Kabu para implementar atividades sustentáveis em seus territórios. Alguns nem sabiam da existência do Centro de Documentação e da loja: “Eu nunca tinha vindo aqui. Achei bem bonito, as fotos, as cestas, as imagens”, comentou Marcos Vinícius, de 13 anos, que cursa o oitavo ano no colégio Híper Ideal.

A exposição, na verdade, foram duas: Nos dois primeiros dias, as fotos e objetos expostos foram dedicados ao papel das mulheres na sociedade Mebêngôkré, que é como os Kayapó se referem a eles mesmos. Nos dois últimos, a exposição foi centrada no papel dos homens, já que há uma divisão entre o que fazem homens e mulheres nas aldeias.

Kauan Lopes Dagostin, também aluno do Ideal, que está no sétimo ano, ficou encantado ao descobrir que os indígenas caçam para comer: “Eles explicaram o jeito que eles caçam, as técnicas e gostei do modo de caça deles. A gente vai ao mercado e eles vão caçar”.  A caça é uma atividade masculina, enquanto a pesca pode ser feita por homens e mulheres.

As cores e as fotos das festas e das danças também despertaram a curiosidade e, além de roteiro explicativo para cada foto, indígenas estavam a postos para contar um pouco sobre seu modo de vida e tirar dúvidas sobre o que os alunos viam e ouviam no totens. Além disso, muitos dos professores devem fazer trabalhos com os alunos a partir do que viram na exposição.

“É preciso conhecer para valorizar”, acredita Luis Carlos Sampaio, oficial de projetos do Instituto Kabu e responsável pela curadoria das fotos, que incluem imagens de fotojornalistas profissionais como Lucas Landau, João Laet e Kamikiá Kisedje; de comunicadores do Kabu como Po Yre Mekrãgnotire e Kokomi Kayapó; e de consultores como o próprio Luis Carlos e Cleber Araújo.

“Tentei mostrar um pouco dos diferentes papéis, inclusive de monitoramento e vigilância do território, a alegria dos Kayapó, as festas tradicionais, os ornamentos e alguns rituais importantes”, completa Sampaio.

Exposições sobre a cultura Kayapó devem acontecer ainda este ano em Cuiabá e em Brasília. Mas é na cidade sede do Kabu que todos os funcionários são envolvidos. Para os não-indígenas, o trabalho da montagem é motivo de orgulho: “É uma grande satisfação ajudar a mostrar essa cultura que eu tenho o privilégio de estar em contato. E de divulgar a cultura indígena em geral e Kayapó, em particular”, afirma Salene Costa, funcionária do Instituto.

A exposição é parte da Rede Lira – Legado Integrado da Região Amazônica, implementado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), com o Fundo Amazônia e a Fundação Gordon e Betty Moore, parceiros financiadores do projeto. A parceria institucional vem da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Amazonas (SEMA-AM) e do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (IDEFLOR-Bio).

Para realizar a exposição, o Kabu contou ainda com parceria do Projeto Tradição e Futuro da Amazônia, financiado pelo Funbio e Petrobrás Ambiental. E ainda de parceiros locais como a Thomas Tour.