As organizações indígenas, a participação de representantes de povos originários na política, o conceito de bem-viver, o direito de preservar a cultura e o modo de vida, as percepções de mudanças no clima, a mobilização política e lutas por direitos foram temas discutidos durante uma semana no primeiro módulo da Oficina de Formação de Lideranças, realizada na aldeia Pykatoti, dentro do projeto Amazônia Verde em parceria com a Conservação Internacional.
Um grupo de 25 Kayapó Mekrãgnoti formado por jovens, anciãos e lideranças das aldeias filiadas ao Instituto Kabu passou uma semana na aldeia Pykatoti, na Terra Indígena Menkragnoti, trocando experiências e ampliando o conhecimento de conceitos como o de políticas públicas e a necessidade de ampliar aquelas voltadas especificamente para os povos indígenas e criadas com a sua participação, como a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI). A oficina também foi uma oportunidade para que os jovens pudessem trocar experiências com os mais velhos.
“Para que a gente passe o nosso conhecimento, os jovens precisam nos procurar, precisam chegar até nós e mostrar que querem aprender,” explicou Kadjyre Kayapó, ancião que já foi benjadjwyry (cacique na língua Kayapó) da aldeia Krimej – hoje chefiada por seu filho, Monhire Kayapó. E foi justamente Monhire quem lembrou que as lideranças já consolidadas precisam também abrir espaço para os mais jovens, encorajá-los a falar e a participar das lutas pela manutenção dos direitos e do modo de vida dos Kayapó.
A capacitação de lideranças existentes e a formação de novas lideranças faz parte de um esforço de fortalecimento institucional do Instituto Kabu, para fazer frente ao crescente aumento de pressões sobre os territórios indígenas e aos ataques sistemáticos a direitos indígenas e às suas associações.
“Como eles têm a formação tradicional, eu tomei cuidado para respeitar o conhecimento Kayapó e trazer mais informação sobre as formas de organização do Estado, sobre como a sociedade envolvente é estruturada e trabalhar, organização comunitária e elaboração e apoio de projetos,” ressaltou Sayonara da Silva, consultora da Samaúma Socioambiental, que ministrou a formação.
Percepções de mudanças climáticas
Mais de 15% das áreas de floresta do entorno das Terras Indígenas Baú e Menkragnoti foram desmatadas e as mudanças no microclima já são sentidas pelos indígenas, que previram que isto iria acontecer, de acordo com os anciãos que participaram do curso: “Antes da aproximação do kuben (não indígenas), sabíamos exatamente quando as coisas iam acontecer. Agora está tudo bagunçado: o açaí dá antes do tempo, o mel dá antes do tempo,” disse Kadjyre Kayapó.
Os tracajás (Podocnemis unifilis, espécie parente da tartaruga) anunciavam a chegada da estação seca no início de agosto, que apesar de ser inverno, é chamada de verão pelos Kayapó. A chegada das fêmeas de tracajá às praias dos rios para desovar, que acontecia no início do mês, só aconteceu no final de agosto em 2021.
Os Kayapó também ressaltam que as inundações provocadas pelos rios na estação chuvosa têm crescido, ao mesmo tempo que a seca está baixando o nível dos rios a pontos que eles nunca viram: pedras do fundo dos rios que nunca tinha sido exposta, passaram a aparecer.