Kayapó participam em Brasília da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Indígenas

Grande encontro, iniciado nesta terça-feira (07), vai discutir o "reflorestamento das mentes para a cura da Terra" nos próximos cinco dias
Kayapó participam em Brasília da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Indígenas
08.09

O Instituto Kabu, a Associação Floresta Protegida e o Instituto Raoni, além dos Xikrin do norte de Mato Grosso, levaram 68 Kayapó-Mebengokre para o grande encontro de mulheres indígenas iniciado nesta terça-feira (07)  e que vai discutir o “reflorestamento das mentes para a cura da Terra” nos próximos cinco dias. Elas estão acampadas nos gramados da Funarte, no Eixo Monumental, em Brasília, e acompanham a retomada do julgamento do Marco Temporal  a partir desta quarta-feira (08).  A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) organiza o encontro, que dividiu as delegações por biomas. 

Lideranças femininas da Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e dos Pampas, foram credenciadas e testadas para a COVID-19, dentro d e uma grande parceria que envolve a Fiocruz, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), e a Universidade de Brasília (UnB). Profissionais de saúde indígena estão acompanhando as delegações, que vão novamente ser submetidas aos testes RT-PCR no final do encontro. Todas as participantes estão imunizadas contra a COVID.

“Isso é só o começo. Mais e mais mulheres vão se juntar à luta para defender e preservar nossos territórios de invasões, de madeireiros e de garimpeiros”, resume a cacica Kôkôba Mekrãgnotire, da aldeia Menkragnoti Velho, na língua. A tradutora é a jovem comunicadora NGreiran Kayapó, de 18 anos, que acompanha a primeira cacica da TI Menkragnoti,  treinada desde a infância para suceder o avô, considerado um grande líder. 

Como NGreiran, várias jovens acompanham as primeiras gerações de líderes femininas, traduzindo e facilitando as discussões do ponto de vista das mulheres indígenas. O logo do encontro retrata uma indígena grávida cujas pernas e pés são raízes. Na tradição Kayapó, há divisão de tarefas entre homens e mulheres e elas são responsáveis pelas roças (que são limpas e preparadas pelos homens, mas cuidadas e colhidas por elas), saem menos das aldeias 

Muitas das etnias presentes, incluindo as Kayapó, fizeram apresentações de cantos e danças à tarde e o estande do projeto Arte Kayapó voltou a funcionar pela primeira vez em um evento nacional, desde o início da pandemia. 

O dia transcorreu com calma no acampamento, depois de uma noite de apreensão, com manifestações a menos de 3km do local do acampamento, na Esplanada dos Ministérios, realizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que invadiram com carros e caminhões a Esplanada dos Ministérios. O acampamento conta com segurança própria, além da fornecida pela Polícia Militar e, apesar de muito barulho e manifestações racistas durante toda a noite, não houve incidentes. 

Em nota, as organizadoras afirmam: “Estamos em busca da garantia de nossos territórios, pelas que nos antecederam, para as presentes e futuras gerações, defendendo o meio ambiente, este bem comum que garante nossos modos de vida enquanto humanidade.”

Acampamento de mulheres indígenas em Brasília